Ivson e Ivanildo compartilhavam a mesma paixão: a fotografia. E neste dia dos pais, o FOTOP conta um pouco desta história que envolve pai e filho, muita saudade e, claro, fotografia

Sorte de quem se aproximou e se apaixonou pela fotografia porque teve um grande mentor no caminho. Não desmerecendo aqueles que se entregaram nessa jornada sozinhos, mas ter sido apresentado como uma herança de família é um fato especial.

O fotógrafo Ivson Miranda, 65 anos, morador de São Paulo, é uma dessas pessoas de sorte. Profissionalmente, ele fotografa há 43 anos, mas aprendeu a registrar imagens aos 12. Seu pai, Ivanildo Miranda, não tinha a fotografia como profissão, mas adorava registrar imagens e, por isso, eles sempre tiveram câmeras espalhadas pela casa.

“Embora não tivesse uma formação formal, tinha um agudo senso estético. Hoje, quando eu lembro que ele até fazia direção de fotografia nos registros”, conta.

Imigrante nordestino, Ivanildo chegou em São Paulo nos anos 50 e fez um pouco de tudo na vida. Mas foi como comerciante, mais exatamente trabalhando com sucata de metais que ele construiu um bom patrimônio. “Conseguiu dar uma vida de conforto para todos nós”, conta Ivson.

Pai e filho compartilhavam a mesma paixão, e uma das grandes lições deixadas por Ivanildo foi que não fotografamos para o hoje, mas para o futuro, “a gente vai construindo memórias e que elas têm que ser preservadas. Hoje estou cuidando do acervo de negativos que ele deixou. Graças a ele tenho um registro muito bom do meu passado”.

Apesar de ter influenciado o filho, Ivanildo não queria que ele fosse fotógrafo profissional.

“Ele tentou de todo jeito me dissuadir de trilhar esse caminho. Ele alegava que era uma profissão saturada, isso nos anos 70, imagina o que ele acharia hoje. Na época não tinha faculdade de fotografia, eu queria cursar Comunicações. Cheguei num acordo com ele, me disse que teria que prestar concurso para o Banco do Brasil ou Polícia Civil, essa era a condição para me pagar a faculdade”, relembra.

Ivson então optei pela a Polícia Civil, pensando na possibilidade de ser fotógrafo da polícia científica. Mas fazendo o cursinho, seu melhor amigo o fez rasgar a inscrição e desistir.

“Meu pai só soube disso seis meses depois que já estava na faculdade e tinha me tornado assistente de um dos grandes nomes na época, o fotógrafo Roger Bester no Estúdio Abril. Anos depois, ele tinha o maior orgulho de quando eu publicava as capas das revistas”, diz.

Hoje Ivson tem duas filhas que seguiram caminhos próprios e trabalham com educação. A mais velha é casada com um ilustrador infantil e a outra com um músico, dono de uma produtora. Além disso, ele conta que tem dois netos maravilhosos.

Entre as leituras do fotógrafo está o livro “Esperando Robert Capa” de Susana Fortes, onde Gerda Taro descreve o mercado fotográfico de Paris nos 30 como saturado. “Foi a mesma palavra que meu pai usou quando eu falei que ia ser fotógrafo e que hoje escuto direto sobre a situação contemporânea. Se você tem talento, resiliência, capacidade de adaptação e consegue pensar fora da caixa, nunca o mercado será saturado”, finaliza.